Belo Horizonte, MG, 08, (AFI) – Quase um ano após assumir a SAF do Cruzeiro, Pedro Lourenço rompeu o silêncio e fez cobranças públicas a Alexandre Mattos, CEO de futebol do clube. Em entrevista ao Tempo Sports, o empresário não poupou críticas ao desempenho do departamento no mercado de contratações e admitiu que a gestão esportiva falhou além do que ele imaginava.
Desde a chegada de Mattos, o Cruzeiro investiu mais de R$ 250 milhões em reforços, com 18 jogadores contratados entre 2024 e 2025. Apesar do esforço financeiro, o retorno esportivo ficou aquém: o time perdeu o título da Sul-Americana no ano passado, não se classificou para a Libertadores e já demitiu Fernando Diniz nesta temporada, sem chegar sequer à final do Campeonato Mineiro.
Pedro Lourenço, conhecido por seu perfil direto, reconheceu que o clube “errou muito” nas contratações e que agora a margem de falha precisa ser zero. Segundo ele, houve desequilíbrio na formação do elenco, com excesso de jogadores para algumas posições e falta de atletas no perfil desejado pelo técnico.
“A realidade mostra para todos: nós erramos muito. Conversei com Alexandre, e agora temos que errar menos. De preferência, não errar”, afirmou Lourenço.
O peso dos erros já se reflete nas finanças. O Cruzeiro, que hoje tem uma das maiores folhas salariais do país (mais de R$ 20 milhões mensais), ainda precisa lidar com compromissos futuros, o que exigirá novos aportes do dono da SAF. Para Pedro, a matemática do futebol não fecha:
“O futebol, como negócio, é péssimo. Eu trabalho na minha empresa: se der 3% de lucro, eu solto foguete. No futebol, empresário ganha 10% todo mês. É salário de 2 milhões, com comissão de 200 mil. Quem paga sou eu.”
A crítica escancarou a insatisfação com a lógica de mercado do futebol brasileiro, especialmente em relação às altas comissões pagas a agentes e as variações cambiais que encarecem negociações internacionais.
MUDANÇAS À VISTA
Além das cobranças a Mattos, Pedro Lourenço estuda reforçar a estrutura do clube fora das quatro linhas. Ele confirmou que analisa a contratação de um dirigente para atuar como elo entre o elenco profissional e a diretoria — uma função que no passado foi exercida por Edu Dracena e que hoje está vaga. A ideia é também aproximar o time principal das categorias de base, área que Lourenço considera estratégica para o futuro da Raposa.
“Nossa pedra preciosa está na Toca da Raposa I. Preciso de alguém que faça essa ligação”, explicou.
Hoje, o futebol do Cruzeiro é comandado por Mattos, com Paulo Pelaipe (executivo) e Rodrigo Ramos (supervisor) como subordinados diretos. A nova contratação visa dar mais suporte operacional e estratégico à gestão, que vem sendo alvo de críticas internas e externas.
PRÓXIMOS PASSOS
Com elenco reformulado, altos investimentos e a pressão crescente da torcida, o Cruzeiro entra em um momento decisivo em 2025. Disputando o Brasileirão, a Sul-Americana e a Copa do Brasil, o clube precisa mostrar evolução esportiva para justificar os aportes feitos e evitar que os erros de planejamento se tornem um ciclo difícil de reverter.
Pedro Lourenço, pelo menos, parece disposto a enfrentar o problema sem rodeios — e, se necessário, promover novas mudanças para tentar colocar o Cruzeiro no caminho que ele prometeu quando comprou a SAF.