Safra recorde de grãos é oportunidade para Brasil ampliar participação no mercado agrícola internacional, avaliam especialistas | Maranhão Hoje – MARANHÃO Hoje- Notícias, Esportes, Jogos ao vivo e mais

Volumes de produção históricos do milho e do trigo são destaques de levantamento da Conab

A produção brasileira de grãos deve atingir novo recorde este ano. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), se as condições climáticas forem favoráveis para o desenvolvimento das culturas da segunda safra — em especial do milho —, a agricultura brasileira vai colher 272,5 milhões de toneladas no ciclo 2021-2022.

Apesar da queda de 10% na produção de soja em relação à safra anterior, as estimativas mostram que a colheita do milho vai mais do que compensar as perdas, avalia Sergio De Zen, diretor de Informações Agropecuárias e Políticas Agrícolas da Conab.

“As perdas na produção de soja foram severas, especialmente no Sul do Brasil. A gente esperava entre 138 milhões e 140 milhões de toneladas, mas vamos colher em torno de 124. No entanto, a grande maioria do país conseguiu plantar no tempo certo. Consequentemente nós fizemos um plantio de milho e uma safra de milho maior. Saímos de 83 para 115 [milhões de toneladas]. Então, perdemos um pouco na soja, mas mais do que compensamos com a safra de milho”, afirma.

De acordo com o levantamento, o cultivo total do milho deve ser 32,8% maior do que na safra 2020-2021. Mas é preciso esperar. Isso porque 60% da segunda safra (safrinha) da leguminosa está em maturação. A dita safrinha representa 88 milhões das 115 milhões de toneladas do grão.

De Zen explica que a alta na produção do milho vem em boa hora, uma vez que a oferta dessa commodity tende a diminuir por causa da guerra no Leste Europeu. “Só de milho, a Ucrânia coloca no mercado em torno de 30 milhões de toneladas. Mais ou menos o equivalente ao que o Brasil vai colher a mais de milho do que no ano passado. Esse aumento quase zerou o impacto que a Ucrânia teria. A safra brasileira está contribuindo para uma redução das pressões inflacionárias no mundo”, aponta.

Não fosse a estiagem que atingiu o Sul do país, os números do campo brasileiro seriam ainda mais expressivos, recorda Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). “Para o pessoal do Sul foi uma safra muito ruim. Para o pessoal do Centro-Oeste foi uma safra muito boa. No balanço total, se a gente somar todas as culturas, ainda sim nós temos uma safra de 272,5 milhões de toneladas, um acréscimo de 6,7% comparado à safra 20/21. É um crescimento bastante significativo, mas poderia ter sido melhor”, ressalta.

A Conab estima que o sorgo é outro grão que tende a registrar recorde de  produção: mais de três milhões de toneladas. Trata-se de um crescimento de quase 50% em relação à safra anterior. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, a colheita deve crescer 362,6%. As colheitas de feijão e algodão também devem subir, de acordo com o levantamento.

A seca no Sul e em parte do Mato Grosso do Sul prejudicou não apenas a colheita da soja. As lavouras de arroz devem produzir 10,8 milhões de toneladas, ante os 11,7 milhões de toneladas da safra 2020-2021.

Trigo – As chamadas culturas de inverno também devem ampliar sua produção na safra atual. Destaque para a de trigo, que deve atingir novo recorde com 9 milhões de toneladas estimadas. O trigo é outro produto que a agricultura brasileira pode ampliar sua participação no comércio internacional, aponta Conchon.

“O Brasil é importador de trigo para o seu consumo. Importa do Canadá, da Argentina, do Uruguai. Como a Ucrânia é uma grande produtora e exportadora de trigo e esse ano ela não vai produzir porque está em guerra, os preços subiram no mercado internacional e os produtores do Brasil viram isso como uma possibilidade e estarão mais dispostos a ampliar sua área plantada de trigo ou de colocar um pacote tecnológico mais avançado que dê uma maior produtividade”, prevê.

Inflação – O diretor de Informações Agropecuárias e Políticas Agrícolas da Conab, Sergio De Zen, analisa as origens da inflação dos alimentos e a sua relação com a produção agrícola. “[Na pandemia] nós tivemos um aumento da demanda por alimentos global e isso não foi acompanhado por um aumento na mesma intensidade da oferta de alimentos. Isso gerou uma inflação global de alimentos. Não é que os alimentos no Brasil subiram de preço. Os alimentos subiram de preço em todos os lugares do mundo”, afirma.

Ao ser questionado se a maior oferta de grãos pode ajudar a diminuir a disparada do preço nas prateleiras dos supermercados, o especialista disse que há, de fato, essa possibilidade.

“Os bancos centrais, especialmente os europeus e os americanos, estão elevando suas taxas de juros. Quando você faz isso você reduz o consumo. Você está dizendo pras pessoas: poupem mais e posterguem o consumo. Quando a gente faz esse tipo de ação ele tem como objetivo reduzir a inflação”, explica.

“Com a combinação de aumento de oferta e redução da demanda a tendência é ter  uma reversão nas expectativas de preço nos próximos meses. Nós temos uma grande safra combinada a uma retração e isso leva a uma redução da pressão por produtos, especialmente as commodities”, conclui.

Para os especialistas, a safra recorde também deve contribuir para a recuperação do PIB da agropecuária, que caiu 0,9% no primeiro trimestre de 2022.

(Fonte: Brasil 61)

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